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Você consegue mudar?
A realidade da reinvenção
Voltando à era da caminhada forçada, quando a única maneira de ver alguém era circular em torno do parque local, saí para caminhar com uma amiga que não via há algum tempo. Enquanto andávamos com dificuldade, comecei a falar algo sobre ter de me reinventar – mas ela me cortou. Como você pode se reinventar, perguntou ela, quando você nem mesmo se inventou?

Isso era o tipo de coisa esperta que eu poderia ter dito a mim mesma, a pré-reinvenção, quando eu ainda era uma sarcástica colunista de jornal. Mas agora, ali estava eu, uma prova viva de que no fim da sua sexta década é perfeitamente possível mudar totalmente sua vida – mudar de casa, separar-se do marido, parar de tingir os cabelos, deixar de ser uma jornalista e me transformar em professora. Disse à minha amiga que por ter feito tudo isso, aparentemente eu havia me transformado em uma pessoa um pouco diferente.

Não dá para mudar quem você é, me disse ela. E em todo caso, minha grande decisão de mudar de carreira foi menos memorável do que fiz parecer, uma vez que tudo o que eu estava fazendo era retornar a uma tradição de família. Minha mãe fora professora e meu pai, um acadêmico, de modo que se eu também me tornasse uma, isso seria tão extraordinário como quando minha antiga colega de classe, Emma Thompson, filha de dois atores, optou por juntar-se a eles nos palcos.

Aquilo foi deprimente. Se ela estava certa, não só significava que minha suposta reinvenção era um blefe, como lança uma dúvida sobre todas as outras milhões de pessoas que, cansadas de terem passado os últimos 15 anos de suas vidas olhando para um ponto verde no topo das telas de seus computadores, se reinventaram – ou pensam em fazer isso. Um recorde de 4 milhões de americanos deixaram seus empregos em abril e, se uma pesquisa da Microsoft estiver correta, 40% de todos os trabalhadores de todas as partes do mundo pensam em jogar a toalha e fazer outra coisa da vida.

Enquanto começávamos nossa segunda volta no parque, expliquei com detalhes como minha nova vida havia me modificado – e principalmente, me tornado mais amável. Na vida antiga eu era paga para entrevistar pessoas famosas e desenvolvi uma técnica que envolvia jogar um laço para os meus entrevistados e esperar que eles colocassem suas cabeças nele – o que eles quase sempre faziam, se eu esperasse o suficiente. Eu era ruim com quase todo mundo e consegui até mesmo ser levemente desagradável com o arcebispo de Canterbury.

Todas as semanas eu escrevia colunas em que atormentava figuras até então obscuras do mundo corporativo que me enviavam e-mails contendo frases inúteis como “experiência em talento global” ou “acelerar nossa ambição” e me colocava a dilacerar essas pessoas membro por membro. Na época parecia divertido, mas hoje vejo que não era muito legal.

Por outro lado, hoje em dia passo meu tempo tentando fazer jovens do leste de Londres enxergar a diferença entre o nível de desemprego e a taxa de desemprego. Isso não é lá muito divertido e sempre exige paciência e repetição para ter algum efeito, mas mesmo assim parece ser uma coisa que vale a pena fazer. É lógico que essa mudança radical no que faço, por que faço, e com quem faço deve ter deixado alguma marca em meu caráter.

Também posso afirmar com convicção que adquiri certa humildade como resultado de ter sofrido algumas humilhações. Como jornalista eu era boa no que fazia (muito embora eu nem sempre sentisse isso na época), mas nos meus primeiros dois anos como professora eu era terrivelmente fraca. Várias vezes por dia eu sofria a humilhação de fracassar diante de 30 adolescentes hostis. Eu costumava ficar lá parada, suando e tentando manter a dignidade enquanto uma garota de 13 anos dizia: “Professora, eu poderia aprender isso melhor assistindo um vídeo”.

Mesmo agora preciso ouvir educadamente colegas 35 anos mais novos do que eu me repreendendo por eu não ter feito um registro ou inserido dados corretamente. Se isso não torna uma pessoa mais humilde, não sei o que torna, disse eu à minha amiga. Hmmm, respondeu ela. Você parece ser a mesma pessoa para mim.

Assim que cheguei em casa, disparei um e-mail para as pessoas que me conhecem melhor. Escolhi 12 amigos e membros da família, que entre eles tinham quase 500 anos de experiência a meu respeito, e fiz a pergunta. Eu mudei? Estou mais gentil? Mais humilde? Minha filha mais nova foi a primeira a responder. “Isso é ser humilde?”, perguntou ela.

Um a um os demais retornaram meu questionário. Nenhuma das pessoas conseguiu detectar qualquer sinal de aumento da gentileza ou humildade. “Você não era exatamente gentil, para começar, e não diria que você é gentil agora”, respondeu uma de minhas amigas mais próximas.

A única mudança que algumas pessoas notaram foi que eu fiquei mais meticulosa – algo nem um pouco compassivo quando ouvi que a filha de fulana não conseguiu entrar em Oxford, apontando em vez disso que comparado às vidas dos garotos que são meus alunos, sua filha na verdade teve muita sorte.

Como o placar estava agora em 12 a 1, não tive muita escolha a não ser aceitar o veredito e admitir para os meus amigos e família que eles têm uma melhor compreensão da minha pessoa do que eu mesma. Estudos psicológicos corroboram isso, assim como minha experiência de décadas como entrevistadora – somos todos testemunhas não confiáveis quando se trata de nós mesmos.

Lembro-me de entrevistar Jonathan Franzen e descobrir que o homem tão inteligente em destrinchar os defeitos das personagens de seus romances não tinha a menor noção dos seus próprios defeitos. Ele me disse que achava 1% das pessoas repugnantes – mas quando eu observei que ele mesmo era um, ele me corrigiu: “Sou uma pessoa pobre que tem dinheiro”. Parece que eu sou como Franzen, só que ele é um escritor melhor.

Vejo agora que ao me concentrar em coisas boas como gentileza e humildade, eu estava em busca da coisa errada. Não mudei de carreira para me tornar uma pessoa melhor, exatamente. Mudei de carreira não porque eu estava de saco cheio do meu trabalho, e sim de mim mesma.

O teste do sucesso de minha “reinvenção” é se mudar de carreira melhorou isso. A boa notícia é que sim – e mais alguma coisa. Isso porque pela primeira vez na vida meu trabalho me proporcionou uma pausa completa em relação a mim mesma. Estou tão ocupada dando aulas e corrigindo provas que não me resta o menor tempo para contemplar o cordão umbilical.

Enviei outro questionário para centenas de professores mais velhos que fizeram reciclagem por meio da Now Teach, a instituição beneficente que ajudei a criar, perguntando como a “reinvenção” tem sido para eles. Eu queria saber como eles se sentem. Nada mudou? Estão mais realizados? Menos cansados de si próprios? Mais gentis?

É bem verdade que a pesquisa foi enviesada, uma vez que se ateve apenas a pessoas apegadas ao magistério e não aos 15% que o consideram tão horrível/estressante/difícil/ exaustivo que acabaram desistindo. Mas mesmo assim os resultados foram bons. Dos 85% que ainda estão na profissão, quatro quintos disseram se sentir diferentes como resultado.

A exposição prolongada às vidas das crianças, muitas das quais são pobres ou desamparadas, acaba tendo um efeito considerável sobre ex-banqueiros (ou jornalistas): eles se sentem mais compassivos, mais pacientes, calorosos e muito menos enamorados dos ricos – em outras palavras, eles se sentem mais gentis.

É bem provável que seus amigos e famílias discordassem, mas mesmo assim pode haver algo mais em ação aqui – a causa e efeito podem correr em sentido contrário. Um professor disse que não ficou mais gentil desde que trocou de carreira; ele se tornou professor porque já havia se tornado mais gentil. Isso o tornaria igual a todas as pessoas mais velhas de qualquer outro lugar.

Estudos psicológicos de todas as partes do mundo mostram que todas as pessoas ficam mais altruístas com a idade. Isso é chamado de “princípio da maturidade”: em média uma pessoa de 65 anos é mais generosa, mais agradável e menos neurótica do que um jovem de 20 anos. (Isso pode até mesmo explicar porque meus amigos não conseguem ver nenhuma melhora em mim – porque eles também estão se beneficiando do princípio da maturidade).

Em minha pesquisa não ousei perguntar aos novos professores se eles são mais felizes. Não gosto que me perguntem isso, uma vez que nunca sei como responder. Felicidade é algo tão frágil que falar sobre ela a destrói. Mas muitos se voluntariaram e responderam mesmo assim. Ensinar, apesar de todas as privações, é algo que os deixa mais contentes.

“Estou mais cansado”, disse um deles. “Não tenho mais tempo para ir à academia. E estou fazendo mais incursões em minha coleção de vinhos. Mas no geral, definitivamente estou mais feliz.”

Embora eu concorde com quase tudo que eles disseram (especialmente com o homem que disse que acabou se transformando em um guardião não oficial de regras por causa da grande quantidade de admoestações que ele passa todos os dias), uma coisa me impressionou particularmente. “Fiquei mais autêntico”, disse um membro da Now Teach. “Me aproximei mais da minha essência”, disse um outro, enquanto um terceiro escreveu: “Estou mais sintonizado comigo mesmo”.

Antigamente eu acharia isso uma tagarelice insuportável. Escrevi colunas inteiras sobre as flatulências que as pessoas emitem sobre o assunto autenticidade. Mas desta vez sei exatamente o que elas querem dizer e não poderia concordar mais.

Todos os dias enquanto caminho até a escola, mesmo quando está chovendo e não estou preparada para um período duplo logo de cara e com a minha classe menos favorita, sinto que estou fazendo a coisa certa. Não certa de um jeito moral, mas simplesmente certa para mim. Há outras coisas em minha vida que parecem certas da mesma maneira. Jardinagem. Ter cabelos grisalhos. Sempre ter sujeira debaixo das unhas. Ser extremamente entusiasmada. Comprar coisas em leilões. Comer digestivos de chocolate McVitie antes de ir dormir. Essas coisas têm um denominador comum: minha mãe.

Nas primeiras três décadas da minha vida profissional tentei ser o mais diferente possível de meus pais esquerdistas e literatos, começando em um banco de investimentos e abraçando os valores do livre mercado. Quatro anos atrás, quando minha mãe já havia falecido havia uma década e meu pai quinze dias antes, fiz uma reviravolta súbita e não planejada e galopei de volta para as crenças com as quais fui criada. Há um estudo mostrando que as mulheres de meia-idade começam a copiar suas mães quando estão na metade da casa dos 30 anos, o que significa que cheguei um quarto de século atrasada. Mas tudo bem, estou recuperando o tempo perdido.

Paro de escrever por um instante para atender o carteiro, que me entrega a mais recente compra no eBay – uma peça de linho antiga William Morris estampada do tipo que me foi apresentado pela minha mãe quando eu tinha 13 anos.

Acontece que minha amiga estava certa em tudo. Há pouca ação em minha história de reinvenção – mas não sei ao certo o quanto isso é importante. Não ligo mais se sou uma pessoa melhor ou não: me ocorre que, lá no fundo, minha mãe pode não ter sido muito mais gentil do que eu. Agora, meu único guia sobre como viver e como ser feliz será tentar ser como a professora entusiasmada e de cabelos grisalhos que minha mãe era. E a beleza dessa pretensão é que depois de ter dado o salto e me tornado professora, não preciso mais de uma reinvenção consciente. Todo o resto está acontecendo de qualquer forma, tudo do jeito que deve ser.

 

Fonte: https://crcsp.org.br/portal/publicacoes/crcsp-online/materias/634_06.htm

 

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